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Por Fátima Saadi (publicado em Cadernos de Teatro nº134, pp. 2-7)
(continuação do artigo anterior) Num interessante artigo de Grotowski, "Resposta a Stanislavski", a grandeza do trabalho de Stanislavski é avaliada pela diversidade das respostas que cada um dos seus alunos deu às colocações do Mestre - e não pela aplicação subserviente que cada um deles pudesse ter feito das suas ideias. A especificidade do trabalho de Stanislavski está em que não há teorias que se possa "aplicar". As suas ideias incluem a própria atualização / atuação na cena. E, nos ensaios, Stanislavski não se cansava de repetir aos atores: - "Não me digam que compreenderam o que eu disse antes de poderem realizar na cena o que lhes está sendo pedida." O seu temor à generalização, à desencarnação das suas ideias, era tal que, para reforçar-se o aspeto concreto da sua busca, utilizou-se ou bem das suas notas de diário (para a redação de A Minha Vida na Arte) ou bem da forma ficcional em A Preparação do Ator e A Construção do Personagem (publicados respetivamente em 1936 e 1949, nos EUA). (...) Os vínculos que se estabelecem entre o criador e a obra são indissolúveis: uma vez criada a obra, ela é absolutamente necessária - isto é, ela é a melhor e a única resposta à questão da qual brotou; além disso, não se podem esquecer, na contemplação da obra, os caminhos da sua constituição porque, além dela jamais se desvincular da necessidade que a gerou, ela evidencia os processos pelos quais veio à luz, tendo uma função exemplar num mundo em que a tentativa é ocultar o esforço e o processo e valorizar o resultado. Por fim, a obra de arte põe ao nosso alcance o "mundo todo", o real e o imaginário, tomando evidente esta conexão entre ficção e realidade, que é o próprio da arte. Que Stanislavski seja acusado de "naturalista" e que, portanto, se reduza a importância da sua reflexão a um conjunto de procedimentos capazes de viabilizar a encenação de textos ditos realistas, é uma falsidade histórica - porque Stanislavski montou Tchecov, Ibsen, Gorki, Gogol, Tolstoi e clássicos como Shakespeare ("O Mercador de Veneza", 1898, "Júlio César", 1903, "Hamlet", 1911) e Molière ("O Doente Imaginário", 1913) - e uma deliberada má compreensão do seu pensamento que não se propõe a copiar a vida mas a buscar na vida, as estruturas do seu fluxo. Esta é, aliás, na mesma trilha que seguem Gordon Graig, Artaud e todos aqueles que se perguntam o que é teatro. (continua)
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TEATRO 16Iniciando a aventura, CITAÇÃO DO DIA
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Dezembro 2016
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