Menu
Por Fátima Saadi (publicado em Cadernos de Teatro nº134, pp. 2-7)
Stanislavski passou a vida em busca daquilo que faz com que o homem acredite naquilo que torna o homem integralmente presente nos atos em que se empenha. É uma busca mística? Certamente. Uma busca religiosa, na medida em que coloca em causa a ligação do homem consigo mesmo, com o seu passado, com a vida do seu espírito e com o outro. . É uma busca ética, na medida em que reflecte minuciosamente sobre as atitudes do homem num determinado campo de acção - o palco. E é uma busca artística porque o seu objecto primeiro é a constituição de uma obra, no caso, o espectáculo cénico, com ênfase especial para o trabalho do actor.. A busca de Stanislavski funda um campo de reflexão que, desde o final do século XVIII, lentamente se delineava - a reflexão sobre o trabalho do actor. Mas, mais do que isso, Stanislavski faz da reflexão método criativo, ampliando ao mesmo tempo o seu significado porque, pela sua prática criativa no teatro, ele nos afasta da cisão que o ocidente estabeleceu entre pensamento e acção: logos e sensível. Para trabalhar a personagem - ficção do homem - Stanislavski coloca o actor no centro da cena e este actor tem que justificar ali a sua presença. Esta justificativa, entretanto, não existe previamente, ela se dá, a cada momento do seu desempenho, por uma reflexão actuada. Esta reflexão propriamente cénica tem uma lógica particular onde se conjugam as características do actor e as circunstancias da situação à qual ele deve dar vida. Esta orquestração tem o intuito de despertar no actor a imaginação, induzindo-o assim à disposição criadora. Stanislavski trabalha entre a ficção e a realidade, entre o visível e o invisível, entre o passado e a vivência actual. (...) Não lhe interessa (a Stanislavski) formular uma teoria, não pretende alçar-se do particular ao geral, mas compreender verdadeiramente este particular, esta singularidade que é o actor que, em cena, cria a vida do espírito do personagem através dos seus actos. É muito importante frisarmos este carácter particular, de trabalho sobre si mesmo, de experiência, que a reflexão de Stanislavski assume. É a única defesa que podemos levantar contra a tendência de encarar as suas ideias como um Sistema ou Método - conjunto de regras gerais coordenadas de forma a abranger um campo de conhecimento - com força de doutrina. O próprio Stanislavski hesitou por longo tempo em colocar as suas ideias sobre o trabalho do actor no papel por medo de que, escritas, elas logo se tornassem rígidas. . A yma actriz do Teatro de Arte de Moscovo que lhe perguntou o que devia fazer com as notas de ensaikos de peças que, sob a sua direcção, ela havia feito há muitos e muitos anos, Stanislavski respondeu: - "Queime, queime tudo!" (continua)
0 Comentários
Enviar uma resposta. |
TEATRO 16Iniciando a aventura, CITAÇÃO DO DIA
CATEGORIAS
Todos
BIBLIOGRAFIALivros de consulta BAÚ
Dezembro 2016
|