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Jerzy Grotowski (1933 – 1999) Encenador e teórico. A sua importância na história do teatro do século XX é inquestionável, tendo sido um dos principais defensores da partilha do mesmo espaço entre actores e espectadores. Para ele, o espectador recebe o desafio do actor, sente a sua respiração, mas a sua participação é passiva. Defende um treino para o actor intenso e físico Autor do livro «Para um Teatro pobre». Pontos de análise 1. O teatro para Grotowski é uma arte carnal. Por isso o corpo precisa quebrar suas resistências. O corpo é material psíquico. Ele diz que "a ação física deve apoiar-se sobre associações pessoais, sobre suas baterias psíquicas, sobre seus acumuladores internos." O essencial é que tudo deve vir do corpo e através dele: "antes de reagir com a voz, deve-se reagir com o corpo. Se se pensa, deve-se pensar com o corpo inteiro, através de ações." Os gestos do ator não devem "ilustrar", mas realizar um "ato de alma" através de seu próprio organismo. Grotowski busca encontrar os vários centros de concentração do corpo: "para as diferentes formas de representar, procurar as áreas do corpo que o ator sente, algumas vezes, como suas fontes de energia." 2. Dar ao corpo uma possibilidade. Uma possibilidade de vida, em que mente/corpo/palavra/gesto/espírito /matéria/interno/externo se integrem e se expressem em sua totalidade: "há que dar-se conta que nosso corpo é nossa vida. Em nosso corpo estão inscritas todas as nossas experiências. Estão inscritas na pele e embaixo da pele, desde a infância até a idade madura e ainda talvez desde antes da infância e desde o nascimento de nossa geração. O corpo em vida é algo palpável (...) o retorno ao corpo - vida exige desarmamento, desnudamento, sinceridade." O desvendamento do ator se fará não para o espectador, mas diante dele. Esse desvendamento, baseado num esforço de total sinceridade, exige do ator a aceitação de uma renúncia a todas as suas máscaras, mesmo as mais íntimas. 3. Grotowski nos fala do ator - performer: "O Performer, com maiúscula, é um homem de ação. É o dançante, o sacerdote, o guerreiro (...) o performer deve trabalhar em uma estrutura precisa, fazendo esforços, porque a persistência e o respeito pelos detalhes são o rigor que permite fazer presente o eu-eu. As coisas por fazer devem ser exatas. Don't improvise, please! Há que encontrar ações simples; porém tendo cuidado para que sejam dominadas e que isto dure. De outra maneira não se trata do simples e sim do banal." O ato criativo no teatro deve ser o resultado da dialética entre precisão e espontaneidade. 4. A tendência do ator à sinceridade não o autoriza a ser informal e casual. Uma viagem ao seu fórum íntimo não pode acontecer sem o acompanhamento de uma disciplina, onde o ator, para não cair no caos, na confusão e no inexpressivo, deve buscar traduzir esse universo por meio de uma partitura gestual, vocal e sonora que seja reflexo material dessa viagem. É dessa contínua oposição entre espontaneidade e disciplina, interioridade e artificialidade, sentimento e forma, que vai nascer o ato total no teatro. 5. O ator para Grotowski é um homem que trabalha em público com o seu corpo, oferecendo-o publicamente; por isso, se esse corpo se limita a mostrar o que é, ou seja, se se limita a demonstrar algo que qualquer pessoa pode fazer, não constitui um instrumento obediente capaz de criar um ato espiritual. Daí a importância que ele dá ao desenvolvimento de uma anatomia especial para o ator. Para desenvolver esta anatomia, é necessário ordem, harmonia e disciplina, pois esse trabalho exige que os atores se lancem em algo extremo, num tipo de transformação que pede uma resposta total de cada um. Esse algo vai além do significado de "teatro" e é muito mais "um ato de viver" e "um caminho de existência". 6. Grotowski nos diz ainda que o ator não pode trabalhar sobre si mesmo, se não está dentro de algo estruturado que seja possível repetir, que tenha princípio, meio e fim, onde cada elemento tem seu lugar lógico, a estrutura elaborada em detalhes - a ação que é a chave. Se falta uma estrutura tudo se dissolve e se torna uma sopa emotiva. A respeito disso ele diz: "assim trabalhamos nossa obra de arte: ação. O trabalho organizado como os ensaios têm oito a quatorze horas por dia, seis dias por semana e dura anos, de maneira sistemática." 7. Uma redefinição da função e da arte do ator: esta foi a trajetória que Grotowski percorreu. O corpo é o seu veículo privilegiado. O ator necessita conhecer e dominar os seus recursos e isto exige uma formação permanente. Não é um aprendizado de alguns anos, mas para toda a vida. O ator dever questionar-se sempre sobre sua arte, deve colocar a sua técnica em discussão. Caso contrário, o ator será aprisionado na sua função histriônica de imitador, vivendo a ilusão de que ele sabe como simular o ciúme, como representar um ancião, como fazer uma tragédia, etc. Uma formação tradicional que, segundo Grotowski, "nada propõe, além de uma aprendizagem de clichês (...) de uma vã e tola imitação da realidade."
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«Posso escolher qualquer espaço vazio e considerá-lo um palco nu. Um homem atravessa esse espaço vazio enquanto outro o observa. Isso é suficiente para criar uma ação cénica.» O que é o teatro? A palavra teatro é originária do Grego: théatron, ou seja, "o lugar de onde se vê". O outro termo nuclear – drama – é igualmente originário do Grego – dram – e quer dizer "fazer acontecer". Acção. Assim temos o Teatro como algo para ser visto; algo para ser feito. Uma acção que é testemunhada. Tão simples quanto isto, como descreveu de forma brilhante o encenador Peter Brook. Hoje em dia, utilizamos a palavra "teatro" para outros fins. Por exemplo, pode-se referir ao edifício onde as peças se realizam: o espaço para a actuação dramática. "O lugar de onde se vê". O teatro costuma, tradicionalmente, ser simbolizado por um conjunto de duas máscaras, uma «que ri» e outra «que chora», e que representa os dois géneros dramáticos clássicos mais conhecidos, a comédia e a tragédia. Quando falamos de teatro, na maior parte dos casos estamos a falar de uma actividade específica, uma arte, uma forma de expressão artística. Neste último caso, fica clara a utilização deste conceito: "vamos ao teatro"; "vamos ver uma peça de teatro"; "o grupo de teatro Amarante vai actuar"; "vamos ter uma aula de teatro"; etc. Estamos, pois, a utilizar a palavra teatro para designar uma ocupação, uma actividade profissional (ou não) – e na maior parte dos casos, uma paixão – de milhares de homens e mulheres um pouco por todo o mundo. O teatro é, ainda, uma arte colectiva, normalmente envolvendo dezenas de pessoas, desde actores, encenadores, dramaturgos, técnicos e produtores. O teatro, expressão das mais antigas do espírito lúdico da humanidade, é uma arte cénica peculiar, pois embora tome quase sempre como ponto de partida um texto literário (comédia, tragédia ou outros géneros), exige uma segunda operação artística: a transformação da literatura em espectáculo cénico e a sua apresentação directa para a plateia. Assim, para que o teatro aconteça temos que considerar um triângulo onde em cada vértice temos, respectivamente, a dramaturgia, o actor e o público. Tudo o resto é importante, mas não é essencial. A dramaturgia não tem que ser literária, isto é, constituída apenas por palavras. Um gesto tem um significado e uma leitura dramática. Simboliza e transporta com ele uma intenção. Por maior que seja a interdependência entre texto dramático e o espectáculo, o actor e a cena criam uma linguagem específica e uma arte essencialmente distinta da criação literária. A arte dos actores e do encenador não sobrevive à representação; os textos ficam. Apesar do texto dramático se manter intacto e incólume ao longo dos anos, a essência do teatro radica na sua função eminentemente social: assume-se como prática social colectivamente participada. Quando estamos a olhar para um palco, estamos a receber ao mesmo tempo, seis, sete ou mais informações: o cenário diz-nos algo; a roupa utilizada; o tipo de iluminação; os gestos e a forma como os personagens se movimentam em cena; a forma como os actores falam, a música ou som ambiente que se ouve, etc. Durante o espectáculo, o texto dramático realiza-se mediante a metamorfose do actor em personagem. A literatura dramática exige presença e cooperação do público. Assim, o teatro é principalmente fenómeno social e, como tal, sujeito às leis e dialéctica históricas. Por isso, não existe teatro em sentido absoluto, com normas permanentes, mas vários teatros, muito diferentes, de diversas épocas e Nações. |
TEATRO 16Iniciando a aventura, CITAÇÃO DO DIA
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